A professora, o traficante e o consumidor



Dizer que o tráfico de drogas atua na margem do tecido social, e que ali o Estado não chega, ali onde as professoras estariam bravamente, é um erro importante, definidor de limites sobre a capacidade de entendimento e de interferência na produção da Política (com pê maiúsculo, diferente da politicagem). É que o Estado, no Capitalismo Senil, chega em todos os lugares do Planeta Terra, do subsolo aos céus; segundo, esse Estado capturador de tudo o que respira, está destinado a produzir lucro, juros e violência, sendo que as professoras só o representam na medida em que são alienadas e reprodutoras de atitudes e currículos hostis a uma vida digna da população sob controle. Terceiro, que o tráfico de drogas ocupa todo o tecido social e a demanda que o move se situa, principalmente, nos setores localizados no topo da pirâmide da captura da renda, ou seja, o lugar onde o tráfico de drogas mais tem poder e eficiência é no interior dos espaços onde as elites circulam. As chamadas "periferias" são os locais de gestão da distribuição e abrigam o cenário onde a ilegalidade do uso de drogas produz disputas violentas e armadas. Mas, não se enganem, a maioria dos distribuidores de drogas ilícitas são homens cordatos, disciplinados, com famílias ordeiras e bem integrados socialmente. Os psicóticos violentos cumprem um papel dentro do sistema todo, da mesma maneira que os psicóticos violentos cumprem um papel no Estado. São lados da mesma linha vermelha de uma guerra que legaliza a maior droga de todas, a grande mídia. As novelas e os noticiários de grande distribuição, os chamados "filmes de ação" e os realites shows imobilizam o cérebro dos consumidores tanto quanto a cocaína, ou mais, já que são permitidos e estimulados. E os produtores e donos das redes de grandes mídias são o mágico de OZ: eles enxergam e gerenciam tudo. As professoras, portanto, são tão escravas quanto o aviãozinho pequeno que distribui maconha em um território restrito, e a maioria delas oferece drogas, porcarias destrutivas, em sala de aula.

Quando adotamos a ferramenta conceitual que abriga o nome de "Capitalismo Senil" estamos dizendo que todo o cenário humano está capturado pela mesma tragédia. Isto significa dizer que toda a humanidade deverá encontrar um novo destino, menos híbrido, mais ordenado, para que alguém humano possa sobreviver. Esse novo destino depende de um caminho, multifacetado, que não conterá o bem dentro de si e o mal do lado de fora. Quando teimamos em recorrer a padrões do século XVIII europeu, de dicotomia entre razão e metafísica, bárbaros e civilizados, não conseguimos realizar a magia da tragédia, da grande Tragédia (com T maiúsculo), que é exatamente a catarse produtora do abandono dos excessos. Vivemos em uma sociedade de excessos de todo o tipo e de faltas, abandonos correspondentes. Excesso de controle social, de concentração de renda, de violência, de produção de manufaturas, de humilhação, de loucura. Precisamos ver a desgraça se abatendo em nós mesmos e não mais descreve-la como sendo o destino dos iludidos e dos malvados e perversos. Precisamos temer a desgraça sobre nós mesmos, para então adquirirmos potência catártica e um novo conteúdo civilizatório. Não há lugares do bem e lugares do mal, precisamos arrancar a generosidade e a dignidade de dentro de nossas próprias tripas, em meio a todas as adversidades que nos contaminam e nos raros momentos em que não estamos drogados com alguma adição.