Generais do sul do Brasil



O sul do Brasil tende a apreciar generais. Aos homens daqui, desde que em comandos, se permite qualquer dimensão de vaidade. Não se dá a mesma regra no que diz respeito à conduta das mulheres, a tradição continua a pressionar para que seja mantida a longa e forte memória do controle do comportamento das mais jovens, para que suas vaidades e orgulhos pessoais sejam reduzidos, disciplinados. As rebeldes a essa ordem arquetípica serão as bruxas do momento. Isso se deu no século XX e continua a acontecer no XXI, é mesmo um formato patriarcal predador. Quem comanda a contenção de vaidades femininas são, em geral, mais velhas, matriarcas, gerentes dos cotidianos, feitoras. Esse tipo de moralidade militarizada, orientada para condutas administradas em hierarquias rígidas e formas sob controle estreito, acaba compondo uma espécie de absoluta supremacia da vaidade dos comandantes, coisa própria de lugares habituados a guerras e exércitos. Os homens gaúchos quase nunca são vistos como arrogantes, as mulheres mais espaçosas amiúde o são. Esse direito diferenciado abrange os homens travestis, ou transexuais, que podem - ou devem - ser espaçosos, espalhafatosos até, talvez em uma metáfora de um direito interditado ao sexo feminino. Aos mais modernos é aconselhável que aprovem o comportamento insinuante das prostitutas, desde que elas sejam assumidamente profissionais, visíveis e localizáveis em seus nichos próprios, distintas das mulheres habitantes das casas onde os homens mandam. Nos lugares de mando dos homens, o excesso no estilo comportamental não é aceito e não deve ser permitido às mulheres. Não é bem visto. As vaginas nunca, jamais, em tempo algum, podem ser tocadas ou coçadas em público, do modo como os homens estão sempre agarrando seus órgãos genitais em gestos rápidos e cênicos. Isso seria um erro de elevada gravidade, uma feiura completa e desconcertante. As donas de vaginas naturais precisam ser corretas, impolutas, preferencialmente discretas, essa discrição propriamente feminina invadindo as estéticas das poucas a ocuparem postos de comando, as chefes e líderes precisando agir em um tom abaixo dos homens, no quesito do volume de gestos, da intensidade de trejeitos pendendo ao exagero. As mulheres precisam ser queridas, os homens amealham características pessoais mais autônomas e diversificadas, do ponto de vista psicológico, os “defeitos” deles sendo comentados com carinho, adquirindo contornos de quase qualidades.