O segredo da maçonaria e a verdade feminista



Apareceu no facebook uma lista de cento e um homens brasileiros maçons. Nela estão presentes Tiradentes, Fábio Junior (o cantor), Alceu Collares (prefeito de Porto Alegre pelo PDT de Brizola), Fernando Gabeira e até Luis Eduardo Greenhalgh, o advogado famoso do Partido dos Trabalhadores; todos esses nomes entremeados por nomes de generais e políticos da tradição da direita brasileira. Nos comentários da postagem alguém fala que Tiradentes não era maçom, se fosse não teria sido morto e despedaçado; que outros da lista também não o são. O objetivo desta listagem neste post não é ser fiel à verdade mas sim querer dizer que eles, os maçons, estão em qualquer estrutura social, que eles são onipresentes e oniscientes e que pretenderiam ser onipotentes em seu desejo utópico, isto é, serem os tais "illuminati", seres super-humanos que dominariam o mundo completa e irrevogavelmente. Uns semi-deuses, mais ou menos. Em muitos momentos eles conseguem vender essa ideia e disseminar essa vontade. Em muitos lugares eles conseguem hegemonizar toda a estrutura em questão, tornar-se uma pregnância. 

O segredo da maçonaria é mover-se de modo a fazer os "outros" não saberem quem é maçom e quem não é. Eles acabam obrigando o conjunto de um ambiente a conviver com eles sem debater a sua presença. Funciona como se só eles tivessem o direito a uma clandestinidade e como se essa clandestinidade gerasse poder aos seus adeptos; um poder difuso e obscuro, um risco de que o sujeito que subordina você possa ter o apoio de muitos outros para fazer isso ou o que quer que seja determinado por esse conjunto desconhecido e inacessível. É interessante analisar sobre o porque essa ordem secreta foi um recurso importante para o golpe do impeachment da Dilma. A maçonaria como tal não define os rumos da espécie humana atualmente, quem faz isso é quem é dono dos meios de produção (incluso os meios de produção dos discursos públicos). Mas, assim como as igrejas evangélicas, ou islâmicas, ou cristãs, pode fornecer o meio para um determinado espaço de articulação discursiva de tomada de poder. E, não se enganem, não obstante um dos pilares desse ordenamento seja a condição masculina de seus membros, esse não é o pilar central e insubstituível. O que define a maçonaria é sua capacidade de ser ao mesmo tempo hiper-exposta e hiper-invisível, por meio de seu "segredo". Ora, isso é passível de ser feito por ambientes mistos e até mesmo com participação de sujeitos ambivalentes ou híbridos no que diz respeito ao gênero. O que não poderia nunca, jamais e em tempo algum, faltar na ordem maçônica são dois ingredientes: primeiro - seus dirigentes precisam ser também dirigentes de lugares importantes de poder na sociedade onde vivem; segundo - é preciso que poucos maçons sejam muito conhecidos e muitos maçons sejam clandestinos, invisíveis à sociabilidade. Bom, esses dois ingredientes fundamentais da maçonaria são muito utilizados também pelas organizações da tradição filosófica marxista-leninista. Registre-se que em quaisquer desses ordenamentos secretos a participação feminina é dificultada, contida nas bases, assediada a limites definidos pelas cúpulas masculinas. As cotas seriam apenas mais um indicador desse modo operacional restritivo. 

Talvez também por isso o impeachment da primeira presidenta do Brasil, em 2016, tenha alçado voo por meio de uma articulação maçônica. Muito se falou sobre esse impeachment ter sido uma espécie de "estupro político" e, diante do ocorrido, os movimentos feministas amplificaram as denúncias sobre a predominância social e histórica de uma determinada "cultura do estupro". Podemos definir a cultura do estupro como aquele conjunto de filosofias que se constroem sobre uma base na qual há um espaço restrito e mais seguro (por suposto) para as mulheres fora do qual elas estarão à mercê da invasão, violação e tortura por parte de qualquer um, por suposto um estranho. Esse espaço restrito uma vez foi o ambiente doméstico, depois pode tornar-se a base das organizações religiosas e políticas e, também, o chão das fábricas e as salas de aulas. Os feminismos denunciam que as estatísticas apontam serem os estupros praticados predominantemente em ambiente familiar e que as mulheres não estão protegidas em lugar algum; as feministas tentam conduzir mulheres a níveis superiores de espaços de poder e até mesmo nas ordens religiosas e secretas as mulheres lutam para ter maior influência. A cultura feminista, assim, é o conjunto de filosofias que se propõem a ampliar o direito de ir e vir e a liberdade de manifestação das mulheres. Nas organizações de tipo marxista-leninista há a presença de mulheres nas cúpulas, ainda que de um modo dificultado e restrito, mas assim como a tal "política" sempre foi um ambiente de domínio para sujeitos pertencentes às ordens secretas maçônicas, desde o surgimento dessa estrutura organizativa na idade média, a "revolução" veio sendo um lugar privilegiado para sujeitos masculinos das ordens secretas da esquerda.

Nunca saberemos quantos maçons existem e o quanto eles se fizeram presentes dentro dos partidos de esquerda brasileiros e dentro dos governos liderados por Lula e Dima Rousseff. Nunca saberemos quantos maçons habitaram ou irão habitar as televisões e os ministérios da cultura. O que já sabemos, e isso é decisivo na mudança de rumos e de éticas na história da humanidade, é que não há espaço escondido e restrito no qual as mulheres estejam mais seguras em um mundo onde predominam as atitudes competitivas, bélicas, consumistas. As mulheres, consideradas a parte mais frágil da espécie humana juntamente com as crianças e os velhos, só estão seguras em ambiente pacificado e com predomínio de princípios jurídicos ligados à ideias de proteção, cuidado. Fora de ambientes tutelados pela paz, as mulheres são sujeitas a todo o tipo de assédio, de violação e a vários tipos de "estupro", inclusive o político.

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