Por um serviço público federal brasileiro civil, humano e cuidadoso - parte um

1.       


  1.      Gostaria de escrever um ensaio consistente lançando uma reflexão das mais importantes na atualidade: precisamos estudar a ideia de que “os servidores públicos só pensam em conseguir mais dinheiro pra acumular mais patrimônio e poder gastar mais e mais em shoppings centers daqui ou de Miami ou lojas chiques ou não tão chiques de vários lugares do mundo, como Paris, ou Roma, ou cidades orientais repletas de balangandãs luminosos”.  Daqueles textos com índole positivista, cheios de citações, de preferência em inglês ou alemão, cheios de dados estatísticos, com jeito de texto que fala toda a verdade. Gostaria de ter a força da escrita de um intelectual acadêmico consagrado, com vários livros bem distribuídos e vendidos, e saber com que linguagem seria possível abordar esse assunto de tal forma que me tornasse muito convincente e capaz de inaugurar um debate mais do que necessário, urgente, entre os filiados ao Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul, o SINTRAJUFE, o meu sindicato.
  2.        Infelizmente não tenho esse lugar da fala e não passo de ser a voz de uma técnica judiciária que desejou ir a um congresso (ou plenária, já seria bom) nacional de servidores públicos do judiciário, no Brasil, durante quase trinta anos e nunca conseguiu. Bom, na verdade não é só esse o meu currículo (nunca somos um único “si mesmo”, nem por um minuto, um “eu” completo e acabado, imóvel, no dizer de Judith Butler) e deveria ser dito, nesse ponto, que sou uma das três mulheres que chamaram a primeira reunião do primeiro núcleo de apoiadores do Partido dos Trabalhadores na Justiça do Trabalho do Rio Grande do Sul, na década de 1980. Fui também membro do comando da primeira greve geral no Brasil, em 1983, participante do núcleo de ação do bairro navegantes, conduzido pela costureira Avani Keller, belos tempos aqueles. Também poderia ser escrito, agora, que a autora deste texto cansou de se sentir humilhada em assembleias gerais dos servidores da Justiça do Trabalho (realizadas em Porto Alegre) quando, às poucas vezes que conseguiu conquistar o microfone em uma reunião dessas, ouviu a inesquecível chamada de “um minuto!” quando apenas tinha falado por dois agoniados minutos e chegado ao meio de um pensamento que vinha de dentro da mais séria e sincera preocupação, demonstrando que não só a mesa da tal assembleia não se interessava pelo que era dito, bem como a própria assembleia não tinha o menor interesse em ouvir alguma ideia desconhecida e não defendida por alguma das organizações políticas das tradições da esquerda brasileira.
  3.       Não vou declinar nomes e siglas. Registro, para fins de máxima clareza, que o primeiro sindicato dos servidores públicos federais, no RGS, o SINTRAJUSTRA, da Justiça do Trabalho, foi construído com hegemonia absoluta da esquerda e que todos os que se filiaram a ele, e posteriormente ao SINTRAJUFE, adotaram a conduta de dedicar um voto de confiança a essas organizações de esquerda, aceitando métodos de direção que desfavoreciam intensamente a participação de servidores desvinculados a uma daquelas organizações. As dinâmicas das assembleias excluíam falas não contidas em um limitado e simplificado sistema de conceitos sobre os objetos de atenção das atitudes coletivas dos servidores reunidos, como se esses servidores não tivessem – na sua maioria esmagadora – curso superior e não fossem aptos a elaborações mais inteligentes sobre a vida real e a sociedade brasileira. Como se não fossem servidores públicos concursados, necessariamente capazes de pensar o país em suas múltiplas nuances. E todo o quadro funcional aceitava de bom grado essa condução da esquerda Lulalá, inclusive a tal direita, que é, portanto, cúmplice dessa esquerda em seus métodos sindicais populistas e fomentadores do individualismo consumista e teria de fazer a mesma autocrítica solicitada agora, raivosamente, pelas ruas.
  4.        Hoje, no momento em que escrevo, são 31 de março de 2016. Portanto eu vou falar quantos minutos a minha fala necessitar, em homenagem a minha própria luta, desde 1977, e à luta de milhares de brasileiros contra a ditadura militar e todas as outras ditaduras que sempre estiveram em algum lugar geográfico ou político dentro desse país, desde 1500 (desde antes, diriam as feministas mais radicais). Não, calma, já ia eu adentrando pela fala convulsionada, tão cara a essa tradição de esquerda, tão usada nos microfones nas últimas três décadas, aquelas falas que por encanto sempre cabiam em três minutos, nunca eram admoestadas com um aviso rigoroso (um minuto!) e recebiam aplausos sem dúvidas e sem ônus algum. O assunto de agora é o seguinte: a diretoria do SINTRAJUFE lançou um manifesto no Facebook com o texto anexado no fim deste aqui e com a foto que ilustra essa publicação minha (em meu blog pessoal). Foi intensamente criticada pelos servidores que se organizam sob a hashtag #naovaitergolpe o que me motivou a começar uma “saraivada” de críticas, já que entendo que a foto e o manifesto inauguram um novo momento político no qual a esquerda deverá ser duramente criticada pelos servidores públicos que queiram proteger e ampliar seus direitos à participação política. E, com ela, criticaremos a tal “direita”, pois que esta sempre esteve ao lado ou subsumida à direção sindical da esquerda, enquanto lhe era cômodo. Em um minuto, pois já sinto o bafo quente de diretorias imaginárias em meu pescoço, alinhavo um resumo: entendo que nessa postagem da imagem os dirigentes enunciaram uma posição de DIRETORIA do sindicato, diretoria eleita, diga-se de passagem. Uma posição que julgo errada, mas que inova o comportamento até agora prenhe de sentimentos corrompidos dos membros do conjunto de todas as posições políticas que atuaram no sindicato desde que este foi fundado. Chamo de “sentimentos corrompidos” um sistema de conduta no qual a sinceridade é o que menos importa, ou melhor, deve ser evitada totalmente, porque as estratégias de ação produzem falas que são usadas como alegoria de um conteúdo que não pode ser falado.  A corrupção não é construída pela ação pontual de “grandes bandidos imorais”, ela se desenvolve a partir de pequenas manipulações mentirosas, enganadoras, cotidianas em espaços da existência comum, todos sabem, e só a partir daí ela vai agregar ações de grande porte, de grupos organizados. Em novos textos desenvolverei melhor o tema, por ora já está bem entendido.
  5.         Então, o grupo que assume esse manifesto de tipo “que se vão todos” adota agora uma atitude que não garante uma aliança com outras forças políticas e que sugere que o grupo se oferece como futura minoria, ainda que hoje ocupe o lugar de diretoria do sindicato. Esse é um comportamento inédito em ruptura com a tradição de acertar pendengas nas cúpulas e oferecer às tais bases um mingauzinho mastigado de conteúdo amorfo ou alavancado pela aparentemente eterna busca de poder aquisitivo para os filiados no sindicato. Por essa característica inédita saúdo a diretoria do meu sindicato – o SINTRAJUFE – e a parabenizo pelo comportamento corajoso e transparente, não obstante entenda que – por razões que não serão elencadas aqui – esse grupo político na atual diretoria está manifestando um erro de entendimento sobre a presença e solidez da democracia no país e a segurança de garantias mínimas de exercício de direitos pétreos constitucionais para os cidadãos brasileiros.
  6.         Bom, nesse ponto o leitor que se orienta pela ideia de CELERIDADE, não como um princípio jurídico daquilo que acontece no tempo a que se destina, que lhe é condizente, mas como uma ideia de “vencedor da fórmula um”, uma noção “Ayrton Senna” do acontecer da vida, com tudo o que de trágico a acompanha, esse leitor apressado e sem tempo poderá abandonar a leitura. Até aqui o texto tinha o objetivo de sugerir a necessidade de novas aberturas reflexivas que não mais indiquem culpados fáceis e inocentes “bacanas” (detesto essa palavra-uniforme da Rede Globo e que significa coisas ou pessoas “adequadas e bem enquadradas”), ao menos em um ambiente que se afirma como democrático, como o espaço sindical.  Daqui para frente teremos mais seis pontos, nos quais serão abordados conceitos, situações e valores que orientaram o movimento sindical brasileiro e especificamente o sindicalismo dos servidores federais nas últimas três décadas e que julgo merecedores de críticas consistentes e pensadas em coletivos que venham a se organizar no foco de uma resistência à guerra (qual guerra? A das bancas capitalistas contra as etnias fragilizadas em todo o planeta, contra os povos sacer – sacrificáveis – em favor de uma nova acumulação primitiva de capital). Vou elencar os seguintes temas: a expressão PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS como bandeira central; a ideia de CONFIANÇA, no conteúdo dos cargos de chefia ou de assessoria na estrutura do Judiciário brasileiro; o conceito de TRABALHADORES adotado como signo para os servidores públicos federais. Por último, apresentarei uma ideia rascunho de POSSIBILIDADES PARA UM RECOMEÇO DE ORGANIZAÇÃO DOS SERVIDORES FEDERAIS DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO.
  7.         Vamos adiante com os que já entenderam que a política dos “três minutos para as organizações falarem” deu com os burros na água. Vamos adiante com os que já entenderam que a vida não pode ser vivida às pressas sem que se perca a memória sobre o que significa a palavra cidadania. Por um “PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS JÁ”. Isso não é uma bandeira de luta. Qualquer instituição, órgão, empresa ou cooperativa tem um esquema de cargos e salários. Quando entrei, por concurso público, na Justiça do Trabalho, o fiz para um cargo determinado, com atribuições definidas e inclusão precisa em um sistema de remuneração hierarquizado. Isso em 1983. Esse sistema vinha sendo construído desde o Estado Novo de Getúlio Vargas e, por favor, não me digam que ele não correspondia a “planos”. Argumentam os sindicalistas da era Lula/Dilma que suas diretorias sindicais construíram propostas para diminuir as injustiças nas estruturas existentes e que essas propostas estavam DENTRO dos projetos de novos PCS, que eram debatidos em reuniões de cúpulas com representantes do governo, essas reuniões das quais eu nunca pude chegar nem perto da chance de participar, e que esses conteúdos eram debatidos em congressos nacionais de servidores, sem qualquer ressonância de conteúdo na tal “base da categoria”. Que injustiças eram essas e quais eram as novas propostas? Só conseguimos nos lembrar de duas ideias que foram erguidas como bandeiras de luta: “PCS JÁ!” e “REPOSIÇÃO DE X%”. Havia uma mentira padronizada, normativa, proibida qualquer fala em contrário. Em todas as diferentes organizações políticas, ocupantes de direções sindicais (do antigo PSTU, passando pelo novo Psol e alcançando todas as correntes ligadas ao projeto “Lulalá”) foi unânime a certeza sobre o foco exclusivo em reivindicações de defesa da capacidade de compra, de consumo dos seus sindicalizados, em alguns casos com índices de início de movimento, de partida das negociações, diante dos quais brilhavam os olhos da maioria, pois correspondiam a uma enorme melhora do poder de consumo. Registre-se aqui, com a máxima clareza: brilhar os olhos e pensar “bah... se eu ganhar essa quantia vou poder comprar um monte de coisas caras”, para a condição de SERVIDOR PÚBLICO é a engendração de uma conduta corrompida, pois o servidor público escolheu uma função social de “pensar nos outros, na população local” em primeiro lugar.  Seria obrigação do servidor público pensar em toda a estrutura de salários do país, para só então afirmar algo sobre seu próprio salário individual. Se 180 milhões de brasileiros ganham menos do que cinco mil por mês, o servidor público poderá defender que precisa receber salário maior que isso, para poder ficar imune a compras de atitudes, para poder trabalhar pela melhoria da qualidade de vida dos “outros”, mas, de alguma maneira, terá que justificar as diferenças no enquadramento de um compromisso com o bem estar social em todo o território a que serve.
  8.         Há várias características perversas (no sentido de corrompidas, torcidas, deformadas) a serem elencadas e descritas sobre esse formato que ocupou o movimento sindical de um modo totalitário, mas essa narrativa é desnecessária porque todos sabemos, todos nós vivemos os sorrisos violentos (por arrogantes e autoritários) daqueles que tinham o controle dos microfones, nas assembleias e nos congressos sindicais. Essa forma segura demais surgiu depois do período de luta contra a ditadura militar, depois do primeiro PT, no qual os militantes eram gentis e generosos para com o sujeito ignorante e tinham um comportamento solidário e fraterno junto ao cidadão comum. Parece mesmo que o momento histórico no qual vivemos agora – esse golpe para derrubar Dilma Rousseff da Presidência da República – é de uma intensa e assombrosa psicanálise coletiva da esquerda brasileira, toda ela. Os que ficam de fora, os que simplesmente aderiram à linha discursiva do PMDB (partido que comanda a elaboração geopolítica visando uma nova hegemonia pós-Partido dos Trabalhadores) mesmo se dizendo de esquerda são desconsiderados, esquecidos, por ora. É a esquerda brasileira que tenta se reinventar, se entender, se repensar no interior da trincheira do #nãovaitergolpe.
  9.         Talvez eu devesse fazer aqui a minha confissão psicanalítica pessoal e aceitar o fato simples de a ideia de “via eleitoral” em substituição à “luta armada em prol da ditadura do proletariado” ter se realizado como uma permissão do grande capital, nacional e transnacional, aliado a todos os perversos e malvados de plantão.  Posso depor como testemunha e ré e confessar que no âmbito da cena pública a derrubada da ditadura militar, a partir de 1978,  se deu em meio a uma quase festa juvenil. Não seria de os mais velhos terem conversado com os jovens de 1980 sobre essa facilidade da saída da ditadura? Aqueles que tinham sido torturados acreditavam mesmo que a direita estava sendo banida e destituída da sua potência? Eu poderia fazer aqui uma longa análise de como a violência e a maldade como banalidades não foram retiradas dos lugares de mando e de como os subalternos foram terrivelmente humilhados durante toda a “Era Lula/Dilma”, não por uma suposta esquerda equivocada, mas pelos violentos de sempre, as pessoas para as quais um olhar triste, cansado e assustado de um subalterno só preocupava se implicasse em insubordinação. E poderia depor relatando a máxima conivência da tal esquerda com os procedimentos de ASSÉDIO MORAL praticados nos locais de trabalho em todo o serviço público federal. Isso era um impedimento de partida já posto pelos donos do poder à saída da ditadura, essa marcação de censura consagrada na derrota eleitoral do Lula em 1989 e na mudança de atitude do PT rumo à conciliação com os que impunham as privatizações, as terceirizações, a invenção da produtividade abusiva por meio do uso dos computadores para forçar os subalternos a experiências inéditas de definir até onde eles poderiam ser forçados à velocidade e ao adoecimento. Isso já não era um projeto da esquerda. Por isso eu não conseguia falar com clareza e objetividade nas assembleias gerais, por isso eu pegava o microfone para balbuciar que aquilo tudo era uma enorme mentira.
  10.   Eu dizia (antes de ouvir a mesa me oferecer signos da ilegitimidade da minha fala, de como eu era inútil e não deveria nem ter comparecido à assembleia), dizia que A LUTA NÃO DEVERIA SER ECONÔMICA, MAS SIM IDEOLÓGICA; QUE NÃO DEVERIA SER POR CATEGORIA, MAS SIM EM GRANDES ACONTECIMENTOS UNIFICADOS DE TODOS OS TRABALHADORES; que a própria ideia de sindicato dos trabalhadores, para nós servidores públicos, era uma mentira. “Nós somos o Estado brasileiro”, lembro-me como se fosse hoje das vaias que eu recebi de quatrocentos alegres e irreverentes servidores públicos reunidos em assembleia geral, ao dizer essa frase, a meu ver atual tão conectada ao ontológico por meio de uma ideia óbvia. Éramos mesmo uma parte do Estado brasileiro, mas aquela representação de um conjunto de três a quatro mil servidores só se pensava, já àquela altura, como consumidores reunidos sob a fórmula “trabalhadores”. Fórmula tão corruptivelmente socializada para todos os brasileiros membros dos 10% da parte de cima da cadeia alimentar no país. Todo o mundo virou “trabalhador” no Brasil da Era Lulalá. Isso, por si só, já era uma gigantesca corrupção de símbolos que deveria ser atentamente estudada agora. Comandados por uma mesa que distribuía várias inscrições para um mesmo grupo político e divertia-se em cortar a palavra de um indivíduo desarticulado e sem partido qualquer, os tais “trabalhadores” se compraziam em humilhar pessoas como eu. Lembro-me agora dos nomes de quem me desmereceu em intervenções me condenando por eu não estar sendo “classista”. Colegas esquerdíssimos. Eu era uma Cassandra (personagem mitológica feminina trágica, uma dos dezenove filhos do rei Príamo e da rainha Hécuba de Troia, que tentou avisar os troianos sobre os riscos de enfrentar uma guerra contra os gregos e foi executada como bruxa por ter previsto a derrota) tresloucada e meu comportamento um mero desatino, reconheço. Não condeno aquela já velha esquerda ao fogo do inferno (mesmo porque o Papa Francisco já avisou que esse fogo não existe) e os convido a essa reflexão não mais contida nas facilidades dos teatrais três minutos. Reconheço os últimos trinta anos como uma Era para dentro da qual fomos todos sugados, envolvidos em nossas precariedades existenciais. Defendo o perdão e a compaixão dentro de uma conduta amadurecida e direcionada à construção de uma nova ética sem a violência da que foi construída por aquela esquerda do bloco “lulalá”. Violência de esquerda apoiadíssima pela direita que hoje a crucifica, a transforma em Geni e se comprar em retornar a si própria, direita, como o comandante de sempre, no de sempre Zepelim prateado.
  11.  Agora, quando a situação de desordem institucional no Estado brasileiro evolui para impasses que jogaram milhões de pessoas nas ruas em passeatas e atos públicos de diferentes e antagônicos matizes, a inutilidade de falas discordantes desapareceu porque o cenário político é mesmo polifônico e procura-se desesperadamente soluções pacíficas para o impasse de trágicas proporções. Há quem diga tratar-se apenas de um desastre da direita, e que uma renovada de ânimo de petistas e apoiadores de última hora conduzirá a nau iluminista em direção a mais um mandato e novos destinos graciosos. Mas são poucos. Predomina um sentimento de incredulidade diante do abissal risco de sofrimentos futuros para a vida dos brasileiros comuns. Faz-se hegemônica a ideia, a cada dia que passa, de que aquele sindicalismo tranquilo e gerencial tem seus dias contados. E é nesse novo quadro das condições subjetivas da maioria da população que a ideia de CONFIANÇA como critério de escolha de servidores para ocupação de cargos de chefia ou assessoria no serviço público federal poderá acolher reflexões inovadoras e fecundas. Mais que isso, a ideia de CONFIANÇA deveria, e proponho que deva, nortear a refundação de novos referenciais éticos para o serviço público federal brasileiro nos quais a credibilidade dos seus servidores e a confiança tecida entre eles e deles para com a sociedade civil seja um marco fundante de um novo patamar na construção do Estado Democrático de Direito no Brasil.
  12.    Este documento terá os pontos seguintes desenvolvidos em uma parte dois a ser publicada em breve: 1. Significados históricos e significados possíveis para a palavra “confiança” no serviço público federal brasileiro; 2- As palavras “trabalhador”, “trabalhadores” e suas possibilidades de significantes dentro do serviço público federal; 3- Apontamentos para uma refundação de organizações dos servidores públicos federais do judiciário brasileiro. 

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Nota da direção do Sintrajufe/RS: fora todos os corruptos! eleições gerais já!

       Diante da crise política por que passa o Brasil, a Direção Colegiada do Sintrajufe/RS aprovou, por maioria, a publicação de nota com a posição da entidade sobre a conjuntura atual:Fora todos os corruptos! eleições gerais já!
1. O Brasil passa, hoje, por uma das mais profundas crises políticas de sua história. A população assiste, estarrecida, a sucessivas revelações de novos escândalos de corrupção a partir da Operação Lava-Jato, atingindo em cheio o governo Dilma e as demais instituições da República. A divulgação de áudios de conversas telefônicas do ex-presidente Lula e a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (ex-líder do governo no Senado e principal articulador da manutenção do veto 26) foram apenas os últimos episódios de escândalos envolvendo Dilma (PT-RS), Lula (PT-SP), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Renan Calheiros (PMDB-AL), Aécio Neves (PSDB-MG) e centenas de outros parlamentares investigados. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, tem vários de seus ministros citados como possíveis braços de apoio de acusados junto ao Poder Judiciário. A crise atinge o governo, mas vai além deste: o regime está, integralmente, apodrecido.
2. O governo Dilma agoniza. As relações promíscuas com empreiteiras, a prisão de lideranças do governo e do PT e até a nomeação, como ministro de Estado, de um investigado retiram o pouco de credibilidade que ainda restava. A atual e lamentável situação é consequência da opção feita pelo PT anos atrás, quando decidiu abandonar um projeto, trair milhões que nele acreditavam e fazer “novos amigos”: os ricos e poderosos que, em sua origem, buscava combater. Ao aderir ao programa, o PT sucumbiu também ao modus operandi tradicional de seus novos aliados: a corrupção. Um giro de adequação para tornar-se partido da ordem, um caminho sem volta que, agora, cobra seu preço com o naufrágio do governo em um mar de lama, ausência total de credibilidade e impopularidade recorde. Definitivamente, o governo não tem mais condições de seguir.
3. A lama atinge o governo, mas não se restringe a ele. Não há como ignorar as inúmeras acusações que recaem sobre boa parte dos políticos que cobram a queda de Dilma. Toda a sua linha sucessória, sem exceção, está sendo investigada na Operação Lava-Jato: Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros são acusados de receber propina, eleger-se com dinheiro sujo da corrupção, manter contas secretas no exterior, entre outros crimes. Aécio Neves, que outrora buscava se constituir como alternativa, não tem credibilidade nenhuma depois de ser, provavelmente, o político mais vezes mencionado nas investigações. Nenhum deles é opção, todos eles devem ser investigados e punidos. A disputa pelo poder entre diferentes quadrilhas não nos obriga a defender qualquer uma delas. Exigimos a punição de todos os corruptos. Fora Dilma, Temer, Cunha, Renan, Aécio: Fora Todos! Nesse contexto, com descrédito absoluto dos poderes Executivo e Legislativo, devemos exigir a realização de uma verdadeira reforma política. Não aquela defendida pelo governo em aliança com os setores mais corruptos e reacionários do Congresso (e que nunca saiu do papel), mas uma reforma que, além do fim do financiamento privado de campanhas, aponte para o empoderamento do povo, com dispositivos como o referendo revogatório de mandatos, presente na Constituição de diversos países. No mesmo sentido, é urgente a convocação de eleições gerais, devolvendo à população o direito de escolher seus novos representantes. É essa a saída mais democrática, dando voz à soberania popular, única alternativa para efetivamente derrotar as castas políticas que atuam a serviço da corrupção e dos poderosos.
4. A Operação Lava-Jato deve continuar e se aprofundar. Sua importância fica evidente a partir de qualquer análise com mínima independência. A corrupção não é inédita na história do Brasil. Mas, pela primeira vez, assistimos a políticos poderosos sendo colocados na cadeia após roubarem a população. Por outro lado, as medidas arbitrárias adotadas pelo juiz Sérgio Moro e a flagrante seletividade nas investigações devem ser denunciadas e cobradas. Não aceitamos, por exemplo, a determinação de sigilo na "lista Odebrecht", na qual constam mais de 200 políticos de diversos partidos, dos quais 25% são do Rio Grande do Sul. Exigimos a total transparência e a quebra de sigilo das investigações, com punição a todos os corruptos, de todos os partidos, sem qualquer proteção ou exceção. Essa importante investigação, assim como várias outras, não ocorre sem o empenho de muitos servidores do Judiciário Federal, apesar dos dez anos sem reposição salarial, sem respeito por parte dos governos e da cúpula do Judiciário. São os servidores que garantem a realização da justiça, apesar de toda a injustiça com que são tratados.
5. Há um golpe em andamento. Não se trata de golpe contra o governo, mas a partir dele: um golpe contra os trabalhadores. Após a edição da Lei Antiterror, que criminaliza manifestações públicas, Dilma acaba de enviar ao Congresso o PLP 257/16, nova medida de seu plano de ajuste fiscal. O referido projeto condiciona a renegociação das dívidas dos estados ao congelamento de salário dos servidores estaduais. Além disso, prevê proibição de qualquer reajuste aos servidores federais, suspensão de novas contratações e, até mesmo, plano de demissão voluntária como forma de contenção de gastos. Sem falar na nova Reforma da Previdência, já prometida por Dilma. Um governo que, mesmo prestes a cair, continua a nos atacar é indefensável. Não é em nada diferente dos governos do PSDB, cuja queda um dia foi exigida pelo PT e pelo sindicato. Aliás, a falsa polarização existente entre defensores de um mesmo projeto tira a atenção do ataque em curso contra nossos direitos. Brigam para ter a chave do cofre, mas concordam em deixá-lo fechado para os trabalhadores. É esse o golpe que devemos enfrentar e derrotar. Esse objetivo não conseguiremos marchando ao lado do governo, tampouco fazendo coro a grandes empresários e banqueiros: apenas com independência e em unidade com o conjunto de nossa classe poderemos, efetivamente, enfrentar o ataque a nossos direitos, bem como lutar por novas e maiores conquistas.
6. Nossa categoria, em particular, acumula mais de 50% de perdas salariais nos últimos dez anos. Depois de muita enrolação e da maior mobilização de nossa história, STF e governo anunciaram, em fevereiro, um “acordo” em torno de novo substitutivo para o PLC 2.648/15. Conforme informaram, o projeto seria aprovado no mês de março, para sua implementação a partir de 1º de abril. No entanto, as últimas medidas do governo caminham em sentido oposto, com mais cortes de gastos às nossas custas. Ironicamente, o “acordo” de Dilma e Lewandowski parece ser apenas mais uma piada de 1º de abril. Não aceitaremos mais enrolação. É hora de reagir. Seja qual for a conjuntura, seja qual for o governo, a valorização da categoria deve ser sempre nossa principal bandeira. Por isso, convocamos todos(as) à mobilização para defender nossa dignidade e cobrar a imediata aprovação de nossa reposição salarial e a rejeição do PLP 257/2016. Basta de mentiras! Exigimos respeito!
                                                                                    Direção Colegiada do Sintrajufe/RS






2 comentários:

  1. Acredito que este meu texto pode ter algo a ver com o teu. Identifiquei alguns pontos de contato.
    https://www.facebook.com/ColetivoBNL/photos/a.771388209548179.1073741828.744397822247218/1141262465894083/?type=3&theater

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