Escravismo e Prostituição no Brasil da Era Lula - Parte II

Lee Jeffries
O mal não tem futuro, pois não é originário mas arcaico, anacrônico, e por essa mesma razão antiteológico, nada pode contra a Idéia, isto é, a finalidade da Natureza. Mesmo que a Providência conheça contratempos ou hesitações, sua linha diretriz é a atração do bem como fim e a repulsa do mal como origem sem futuro, ou volta atrás historicamente impossível. O mal é impotência: só pode desdobrar sua potência revelando sua impotência; se o mundo tivesse sido entregue a Satã, não haveria mundo. Isso aí é Kant lido por Patrick Vignoles. Nesta segunda parte do texto Escravismo e Prostituição no Brasil da Era Lula vamos olhar para o assunto "crueldade". Isso aqui é um rascunho, anotações para escrever mais tarde.Não é o texto ainda.

Precisamos tentar entender o processo que levou o país Brasil a um mergulho dentro da radicalidade satânica dos gerenciamentos perversos nos locais de trabalho e nas escolas, justamente em sua primeira experiência de governo socialdemocrata pós ditadura militar; entender o motivo pelo qual João Goulart nos parece, agora, tão mais verdadeiro, mais potência de bem estar social.

Afora os "bárbaros" - os nômades precisamente [os vândalos em 2013] havia os grandes impérios. Todos os impérios, no sentir do poderoso local, eram imensos. Alguns chegaram a ser, à custa de incontáveis mortos, aleijados, torturados, mortos de fome e/ou de peste. Deveras, a glória! As fronteiras destes impérios eram todas de elástico, pois a cada poderoso que acabava de assassinar alguns membros da própria família (família é muito importante) e assumir o poder, o que ele sempre fazia era arrumar um exército de aventureiros vagabundos ou de camponeses sem escolha para ir assaltar e se apropriar de tudo o que o vizinho do lado tinha. Só que dali a pouco - decênios! - o de lá ganhava força e arrasava de volta, e se apropriava do que havia sido "roubado" de seus antecessores. Isso aí é o discreto e modesto José Angelo Gaiarsa. 

Ainda Gaiarsa, nos dois parágrafos a seguir:

Mas durante a batalha, como durante a caçada, os homens desenvolveram a astúcia, a esperteza, qual o melhor jeito de chegar perto sem o outro perceber. Depois, qual o melhor lugar para acertar uma cacetada, uma lança, uma pedrada... Foi assim - no modelo da esperteza implacável da caçada - que os homens desenvolveram todas essas artimanhas que desde sempre dominam as cortes dos poderosos e, ao mesmo tempo, consolidam e distribuem o controle do poderoso sobre todo o povo.

O macho padrão é muito precário, tem pouco interesse pelo lar, se entende mal com as crianças, não trata muito bem a mulher, e isso tudo é "aprendido" em família: "Homem pode", "Não precisa fazer nada". Ele é meio sujo, desorganizado e irresponsável. 

Estou a escrever anotações para falar sobre crueldade no Brasil, lembrando a todo instante que o básico do que estudei está em Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala e na maravilhosa interpretação de Ricardo Benzaquen de Araújo, no livro Guerra e Paz, no qual ele faz uma leitura radical da perversidade como uma estrutura social,  na narrativa de Freyre sobre a cultura brasileira. 

Do nada, agora, me vem à memória aquele dia em que eu, menina de vinte e poucos anos, defendi a divisão do trabalho doméstico em um encontro do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul, nos idos de 1983 ou 84, não lembro. Éramos pequenos e eu chegava a ser membro de uma tal executiva municipal de Porto Alegre. Lembro bem que o Olívio Dutra disse ser contra essa bandeira porque o certo era todos poderem evoluir para o uso de pratos descartáveis e comida em restaurantes coletivos, e que essa bandeira da divisão do trabalho doméstico era boba. Ele não disse assim, seriamente, disse rindo, que ele jamais lavaria pratos, que a tecnologia resolveria isso. Todos riram e eram todos a maioria esmagadora homens. Lembro vagamente de um outro homem, que não vou dizer o nome porque hoje ele é muito importante, que fez uma brincadeira mais pesada, falando em absorventes femininos, mas os outros mandaram ele parar. Eram brincalhões, queriam debochar do meu assunto, mas não queriam violentar demais. Só um pouquinho ( nas contas deles), o tanto necessário para eu entender que ali o assunto era sério.

                                                          (anotações para a parte II - sem revisão)

2 comentários:

  1. Texto subversivo, como sempre... "Coincidência" (ou sincronicidade!), hoje eu estava a pesquisar o significado e origem da palavra Chauvinismo... Essa palavra, assim como teu texto, se aplicam perfeitamente aos "homens precários" (que eu chamo de "ogros" e um amigo nosso chama de "standards), principalmente quando esses seres truculentos se inserem numa população com uma cultura arrogante, que se acha o centro do mundo (gosta de se autoenganar a respeito de uma falsa centralidade), que não faz questão de reconhecer sua posição periférica, que coleciona méritos pretéritos (os quais sobrepõe ilogicamente sobre os méritos alheios (talvez para amenizar a inveja) e os utiliza para negar diariamente sua estagnação, seu atraso, seu reacionarismo... 7arrows

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    1. Descobri que tem mais gente pensando sobre o Escravismo no Brasil como um fenômeno que acontece até hoje, com dissimuladas leis que o abolem de forma fictícia vez ou outra. Estamos começando a falar como nunca falamos. O que nos fez chegar a esse esgotamento de modelo? Porque "não aguentamos mais"? Parece que a tensão não está na comida ou no dinheiro, está no cansaço que a violência crônica acaba por provocar. Para não afundar no banzo, nos rebelamos.

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